sexta-feira, 14 de maio de 2010

Cárcere (PARTE II)

17 de Outubro de 1791
Tenho que continuar escrevendo todo dia para poder saber que dia é. Hoje acordei com as batidas na madeira para a minha forca, que coisa terrível, a única coisa que eu posso dizer que é “minha” e que eu faria questão que não fosse.
Daqui posso ouvir os gritos dos guardas e suas gargalhadas e suas zombarias dizendo coisas como: “Ali, naquela cela, está um ladrão de galinha que logo vai ganhar uma gravata de nó roliço”. Por pior que seja, eu sei que é verdade, porém só gostaria que eles pensassem um pouco e vissem que suas vidas também não valem muita coisa, eles só têm uma diferença comigo, não vão ser enforcados, mas vivem neste mundo que produziram ai fora e estão querendo destruir.
Às vezes, quando me arrisco a pôr o rosto no buraco quadrado da parede, vejo as pessoas passando, algumas pessoas andando rápido como tivessem que chegar a tempo no almoço. Algumas dondocas da cidade com suas saias balão e suas sombrinhas protegendo-as do sol, alguns mendigos perambulando pelas ruas sem ter o que fazer da vida e também dormindo pelos bancos da praça da cidade e vez ou outra, vejo até alguns somo eu, sendo perseguidos pelos guardas violentos e sendo espancados ali mesmo na rua na frente de todos, sendo humilhados por eles e também, às vezes, chego até a olhar o presente que estavam construindo para mim, para uma data desconhecida, mas que com certeza, um dia antes, todos da cidade ficarão sabendo para que possam ir assistir ao espetáculo, no qual eu sou a atração principal, ou melhor, a minha cabeça, pois é isto que eles gostam de ver, uma cabeça fora do corpo, não sendo as suas próprias cabeças, para eles é bonito – esses hipócritas! -
Fico ouvindo da minha cela ou os choros lamentosos ou as melodias tristes dos meus companheiros de cela que falam de suas mulheres, seus filhos, suas mães e todo o resto. São
canções que me deixam comovido e indignado de como esses animais têm coragem de deixar tantas crianças órfãs e sem nenhuma compaixão, com a maior frieza no coração de pedra que eles têm, parece até que matam por puro prazer.

continua

Um comentário:

Mari Lopes disse...

Muito legal Daniel, continua escrevendo!
Bjos